HEMOGRAMA

O telefone toca ás 03:12 am, quebrando o silêncio da madrugada.
-Alô!
Uma pausa, a mão esquerda paralisada na nuca e Dona Cora responde:
-Tudo bem, eu irei até aí.Bom dia!
Guto sabia que sua avó havia falecido naquele exato momento.Não atendeu o telefone, mas sentiu no ruido do mesmo,talvez até antes mesmo do telefone tocar.Sentir... esse foi o início do fim.
Dona Julia Coralina assim como os seus também falecidos irmãos tinha câncer .Curiosamente, na família de Guto a doença era um "mal hereditário" há gerações, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai.Todos os dias ele se auto cobrava: "Preciso largar o cigarro urgente", todo maço de Marlboro era o último,mas ele nunca parava.
Então, em um sábado de manhã Guto acordou sentindo-se zonzo e com ânsia de vômito e imediatamente lembrou da sua finada avó se queixando dos mesmos sintomas,durante a ceia no último natal em família.Foi assim,exatamente assim que ela descobriu o câncer que a matou em menos de um ano.Guto tinha CERTEZA de que estava com câncer.Trancou-se no quarto, pegou a bíblia já empoeirada , tudo que ali estava escrito parecia não fazer sentido e ele não se sentia bem;os sintomas foram ficando mais forte e Guto resolveu não ir ao médico.Decidiu conviver com um pequeno percentual de esperança e se cuidar como um verdadeiro doente mas por conta própria  e finalmente largou o cigarro.

Em poucos meses, Guto escreveu um livro e montou uma ONG para ajudar crianças com câncer,também não era difícil de encontrá-lo aos sábados,com um grupo de espíritas doando marmitex e roupas na Cracolândia.Sua consciência social realmente aflorara e ele queria deixar um legado.Era estranho, ele se sentia como uma criança no autopista, queria curtir o tempo que lhe restava da melhor forma possível antes que "o tempo acabasse de repente" e aquilo o afligia muito.

Vários meses depois,ele já não conseguia mais conviver com aquela maré de aflições,dúvidas e sintomas,aconselhado por um amigo resolveu fazer o exame para saber se realmente estava com câncer.Colheu o sangue e ficou de buscar o resultado após quinze dias.

Durante esse intervalo Guto administrava a ONG e saía aos sábados para a Cracolândia com o pessoal do templo "Filhos do Bem" a fim de continuar o trabalho social ali.
Chegou o dia D,Guto titubeou várias vezes antes de ir ao laboratório, ele havia escondido os sintomas de sua família a mais de um ano;tomou coragem e foi.Chegando lá, pegou o envelope...Mas, e a coragem de abri-lo?...Desceu a pé até a Estação da Luz onde estava estacionado o seu carro.No caminho um jovem drogado o ameaça com uma faca em seu pescoço:
-Aí playboy, vai ali pra calçada na moral, sem barulho porra!!!
-Calma, tudo bem !!!- Respondeu Guto espantado,agarrando o envelope com força.
O Jovem drogado não pensou duas vezes, cravou a faca no pescoço de Guto, que caiu morto na calçada.

Rapidamente aquele jovem esconde o envelope consigo dentro das calças e foge para um beco sentido a Cracolândia.,sozinho, ele abre o envelope na esperança de encontrar dinheiro mas se depara com uma porção de folhas de exames, nas quais todas as linhas tinham a frente em letras garrafais a expressão "NÃO REAGE"....Enfurecido, o jovem rasga os papeis e fala: -"Parece que a covardia estava mesmo no sangue daquele verme!!!"

O "BICHO" HOMEM

Tudo aconteceu quando um homem (paranoico por jogos), sonhou com um pasto cheio de CABRAS e COELHOS, assustado olhou no rádio relógio eram 22:38.Curiosamente eram os números destes animais no jogo do bicho.Obcecado em ficar rico,levantou cedo saiu até a garagem para atender o motoboy do SEDEX ,o qual ele já esperava para trazer-lhe uma fatura; e pasmem, a placa da moto era CCB3822.O motoboy entregou para ele a multa do IMPOSTO DE RENDA, pois há 5 anos ele estava preso na malha fina e o último dia de pagar era aquele...Voltou para dentro de casa, olhou em cima da mesa um bilhete  mais  R$ 864,00 deixado pela esposa tinha o seguinte texto:
"Claúdio, pague essa porcaria hoje deixei o dinheiro da minha rescisão todo aí,quando eu chegar conversamos!!!"

Ele ficou meio balançado em jogar o dinheiro no bicho, pois isso causaria uma tremenda confusão com a patroa.Chegando em frente o prédio da RECEITA FEDERAL dois homens trocaram tiros por conta de um acerto de contas e um deles morre, no meio daquele alvoroço 30 minutos depois,uma policial feminina recolhe as cápsulas das munições e avisa o tenente da viatura:

-Chefe, tem munições de 22 e de 38 e o nome da vítima é Alberto Saanen Coelho!

Ele precisou sentar...Saanen? Esta é uma raça de cabras!!! Ela não entendia o por quê mas tinha certeza que as coicidências daquele dia o faria ganhar uma bolada no bicho. Não exitou, atravessou a rua foi até a casa loterica, deixando o boleto do imposto de renda cair na avenida.Chegou ao caixa tirou todo o dinheiro que estava enrolado no bolso e fez dois jogos 2238 e 3822 na PT (Jogo o qual o resultado sai a tarde).

"Claro que as situações daquele dia estariam retratadas no resultado do jogo",pensou ele.Começou a sonhar com o oque faria com o dinheiro.Finalmente o relógio chegou até as 14 horas, ele precisava pegar o resultado do jogo...Caminhou até a banca de jornal e pegou o resultado do jogo, praticamente tomando da mão do bicheiro: 

-Deixe-me ver...da licença! 6160? Meu Deus ! O mundo desabou na cabeça dele, na hora pensou na fúria da esposa e na dívida que deixara de pagar ao IRPF.Mas, depois de alguns minutos curioso perguntou ao bicheiro:

-Ei amigo qual bicho é 6162?

-Leão -respondeu o bicheiro.

Ele  pensou no Leão do Imposto de renda,era aquele o sinal...Esboçou um sorriso e disse bem baixinho:

-Putz...quase!

ABELARDO BABOSEIRA

Abelardo possuía livros.Muitos livros,revistas e enciclopédias inteiras e curiosamente já havia lido todos eles (a),alguns,mais de uma vez inclusive.Não saía da internet e conhecia tudo sobre Cuba sem sequer ter passado pela ilha caribenha.
"Abelardo Baboseira" este era o vulgo atrelado ao garoto desde a quarta série do Ensino Fundamental,o garoto tinha uma memória digna de um Ultrabook ,era praticamente impossível que ele se envolvesse em um diálogo e não soubesse nada sobre o tema debatido, pois praticamente nada era novidade pra ele;e se porventura ocorresse o mesmo pesquisaria depois sobre o assunto.Masss...Oque era para torná-lo alguém interessante acabou por transformá-lo em um garoto...jovem... e adulto insuportável de se conviver.

Ele,sem qualquer cerimônia interrompia festas de aniversário simplesmente para explicar a origem americana da música "Happy Birthday" e também para explicar a origem ocasional do nome do doce "Brigadeiro";Lógico que durante as celebrações festivas ninguém queria saber destas curiosidades pueris e de seu ar de "intelectual new age".Até quando parado pela polícia de trãnsito dirigindo o seu Galaxie 83 (também comprado mediante convicções simbólicas),Abelardo fazia questão de ressaltar que conhecia seus direitos ao policial,que ficava uma fera por ter de engolir aquele nerd "sem agua"!
O Nonsense de Abelardo era tão grande que durante um velório, se um ente querido de um defunto insistisse em dizer que o "morto ficou mais bonito no caixão pois havia parado de sofrer!!!" Abelardo rapidamente usava o seu rico vocabulário e dizia que foi aplicada ao defunto uma técnica chamada tanatopraxia e blá  blá blá....O que ocasionava ainda mais tristeza no parente da pessoa velada.

Óbvio que foi questão de tempo para ele se tornar a solidão em carne e osso.Afinal ninguém queria ter por perto uma pessoa tão desagradável.Então,indicado por outro nerd, abelardo começou a ler livros sobre Ética e relacionamentos, e em pouco tempo percebeu que o segredo dos relacionamentos duradouros era OUVIR...Simplesmente saber OUVIR. Resolveu então rever seus conceitos e se tornou um bom ouvinte.Nem quando as pessoas diziam estar tomando o diclofenaco errado para curar a dor de garganta Abelardo interpelava.Era difícil se segurar, e ele foi matando um leão por dia.Não corrigia mais o português de ninguém e foi questão de tempo para ele se tornar um cara catalisador...Já tinha 4 amigos e estava ficando à cada dia mais feliz consigo próprio.
Em um Domingo de manhã,Abelardo acordou sentindo fortes dores no peito, de acordo com vosso conhecimento ele sabia que se tratava de sintomas de infarto.Correu,ligou seu Galaxie e se mandou para o hospital mais próximo largando a garagem aberta. Entrou na Emergência correndo e apagou no corredor.

-Senhor Abelardo! -Disse o médico.
-Oi!! Respondeu Abelardo olhando para trás do médico.
-Bem você teve um infarto e ............
Abelardo não queria ouvir o que o médico tinha pra dizer, afinal ele já sabia que havia sofrido um infarto e sabia até o remédio que precisaria tomar a partir dali.Mas o que interessava ele ao olhar atrás do médico era um I-Pad que estava com uma senhora que na ocasião visitava um jovem da maca ao lado da do Abelardo.
-Ei, senhora!!! -Disse Abelardo a senhora.O que fez o próprio médico olhar pra trás enfurecido!
-Pois não!
-Posso ver o seu I-Pad?
-Sim,claro!!! Disse a senhora entregando o I-Pad já com a tela descoberta.
Abelardo clicou no Mozzila e pensou: "Que péssimo navegador ela usa!";abriu o GOOGLE e pesquisou: VIDA APÓS A MORTE NOVAS DESCOBERTAS.

LIÇÃO FLIPERAMA

"Posso te desafiar"?
Essa talvez fosse a indagação mais importante do início dos anos noventa.Durante a minha infância e pré adolescência essa frase tinha múltiplos sentidos,mas em suma era um momento decisivo que separava o joio do trigo.Entrar contra outra pessoa no fliperama não significava simplesmente "pressa de jogar",havia uma questão de briga por território.Era algo como Aquiles desafiando Heitor no filme "Tróia",embora alguns "viciados" se respeitassem e aprendessem uns com os outros, entrar contra e ganhar significava ser o "Macho dominante" da máquina,o referencial de especialista,o temido,o invejado entre outros predicados.

Mas outro tipo de jogador causava mais impacto.Aquele não perguntava nada,simplesmente colocava a ficha,assumia o controle 2 e retirava todos os pirralhos que costumavam ficar plantado nele de forma hostil.

Esse tipo em especial,sabia que ganharia do oponente desafiado,mas ele entrava contra pelo simples prazer de humilhá-lo.Lembro-me que muitos garotos guardavam suas fichas esperando o tal sujeito ir embora,simples assim,sem medo de parecerem covardes,tão somente por não respeitarem o "folgadão" o suficiente para perder pra ele.

18 anos depois,crescemos,nos tornamos homens e muitos ficaram pelo caminho,mas o curioso é que ainda continuamos jogando o tempo todo.Mas desta vez o oponente é muito bom e merece respeito o DESTINO.Muitas vezes ele faz o papel do sujeito n°1 e pergunta se "pode nos desafiar?",e por mais que nos achamos que aprendemos com jogadas anteriores,percebemos que ELE aprendeu um golpe novo que nós não conseguimos defender e então acabamos perdendo mais uma vez.

Em outras ocasiões o DESTINO faz o papel do sujeito n°2;simplesmente nos desafia sem perguntar nada,então procuramos dar o nosso máximo para "defender as sequencias de golpes" enquanto há uma platéia enorme a nossa volta,quase sempre torcendo pela nossa derrota. Mas...é aí, nesse exato momento que paramos e pensamos: "Bem,já que não posso DESLIGAR A MÁQUINA O jeito é continuar jogando!" E essa atitude faz com que o cinzeiro transborde de fichas e desta vez quem desafia o DESTINO somos nós!

A MAIOR DE TODAS AS EDIÇÕES

São Paulo 17 de junho de 2013
João Brazil,um homem comum.Negro,operário da construção civil lavava sua a marmita 20 minutos depois que acabara seu horário de almoço,coloca a colher por sobre o pano de prato,ao relembrar as gozações da noite anterior dentro do ônibus quando os seus amigos da obra faziam piadas sobre a "sinfonia da colher" que batia na marmita vazia enquanto o ônibus trepidava na Av. Celso Garcia em pleno domingo.Segundos depois João sentiu um calafrio que subiu dos pés a cabeça,seu corpo começou a tremer e João começou a ter a sensação de que algo ruim ia acontecer.Ele já não conseguia mais concentra-se no trabalho.

-Raimundo,me ajuda!-Disse João chamando o amigo que estava cochilando.

-Que foi home? -Respondeu Raimundo desesperado tirando o boné da frente dos olhos.

-Sei lá Raimundo me deu um calafrio agora rapaz.

-João Brazil toma tenência,vê se resolve aquela parada que conversamos ontem.

-Que parada Raimundo?

-Aquela presepada que o pai de santo lá de Ibitirama falou pra tú!Que tem um espírito maligno querendo lhe derrubar,essas coisas não é brinquedo não "caburé".-Falou Raimundo pegando a bituca do chão.

-Raimundo,amanhã nos estamos de folga, vamos procurar um centro espírita,você vai comigo?

-Home,eu não sei porque tanto medo.Sua família inteira é do candomblé.

-Você vai ou não vai comigo?

-Deixa estar rapaz,sábado a gente vai atrás disso.Bora trabalhar.

 chegou  a terça feira de folga e João sentiu aquele arrepio logo cedo,e desta vez aumentaram as ocorrências de tremores,e ele pensou que aquele seria definitivamente seu último dia de vida.

Entrou na primeira seção de Mesa Branca e ao pisar na porta a médium deu uma gargalhada possuída por um espírito e falou gargalhando de uma forma fantasmagórica:

...O Brasil cairá de joelhos!!!!João saiu correndo nem esperou Raimundo que largou o dinheirro da consulta em cima da mesa e foi atrás do seu amigo.

-Calma Joãooo!!!!,meu veio tu tem que encarar a situação home.

-Preciso beber alguma coisa Raimundo,eu tô muito nervoso!!!

Três goles depois,procuraram outro médium.Pois o trauma da gargalhada ainda era grande!

-Chegaram de fronte uma espelunca na Vila Matilde e se depararam com um idoso,branco e de olhar singelo que resolveu fazer a consulta.

De repente o senhor abre os olhos já possuído pelo espírito,olha fixamente para João e diz novamente gargalhando:

- "O Brasil cairá de joelhos!!!"

João tenta correr e Raimundo o agarra subitamente.

-Não corre não rapaz,vamos resolver isso agora "qui nem home" 

-Pois bem,quem é tú que tá falando???? Perguntou Raimundo ao possível espírito.

-Há há há há Sou Roberto Civita,e o Brasil cairá de joelhos ao ver a próxima edição da Revista VEJA referente as manifestações contra o Governo!!!Eu não poderia ter desencarnado antes desta revista sair!!!

João Brazil saiu de lá mais aliviado,pois não conhecia nem um Civita.E por não conhecê-lo voltou ao bar,pediu uma porção de "feijão" de corda,bebeu mais três doses e nem reclamou do preço da porção! E a partir dali curiosamente os tremores pararam.

MENTIRAS

Verão de 2003...
Jacques,um garoto de 15 anos amante de leitura cotidiana, depara-se com um caderno de notícias de um famoso jornal de São Paulo,no qual um colunista afirmava que: "Todo ser humano mente em média três vezes a cada dez minutos!".Obcecado por tornar-se uma exceção ele decide se policiar do mau hábito de mentir, traçando assim uma meta pessoal ao qual daria início em plena uma segunda feira.
O despertador toca ás 05:50,ele levanta,escova os dentes e em cinco minutos desce para o café da manhã em família.
-Bom dia a todos! -Disse Jacques,puxando a cadeira.Mas logo percebe que mentiu,pois na verdade não queria que sua irmã tivesse um bom dia,pois ambos tinham discutido na tarde anterior ele ainda guardava mágoas.
-Como vão as coisas no colégio filho?- Perguntou Seu pai .
-Vão bem papai!! Respondeu ele,mentindo novamente.Levantou-se como um raio para não estourar a meta de mentiras.Oito minutos já haviam se passado.
-Ei,não vai esperar sua irmã?-Perguntou sua mãe.
-Não dá, preciso passar na casa do Artur,temos prova hoje e meu caderno está com ele...Rapidamente Jacques sentiu-se como Pedro ao negar Cristo,havia fracassado nos dez  primeiros minutos.

Durante todo o dia ele andou reparando em todas as vezes que ele mentia,e que;quando não mentia três vezes a cada dez minutos ele acabava mentindo seis vezes nos dez minutos subsequentes.Ele acreditou na teoria.Tal avaliação tornara Jacques em um garoto alienado e isolado do mundo.
Dez anos se passaram e Jacques havia realmente se transformado em um homem introspectivo,apático e triste.Não lia livros;pois acreditava que se perdesse duas horas com a leitura,o autor do mesmo teria mentido 36 vezes.Se assistisse um jornal,o âncora da TV teria mentido 9 vezes,nem ir á igreja o aliviaria pois segundo a tal publicação,na missa das 18:00 que dura quarenta minutos,o padre mentirá 12 vezes.

Mas...,em uma mesma segunda feira ele por acidente pegou o velho jornal que havia lido dez anos antes e percebeu que,ele leu novamente toda a tal coluna em quatro minutos, e notou que talvez o tal colunista também estivesse mentindo. A partir daí ele voltou ao seu estágio normal, mas dez anos se passaram e o calendário não estava mentindo.E agora????? Ele parou,analisou e concluiu:"Bem,as pessoas dizem que o tempo não volta.Logo,elas também podem estar mentindo." E voltou a tocar a vida depois de uma década de análises.

OBS: Esta história é uma mentira ok!

LOUCURA "Um grande remédio"

Nãooooooooooo!!! Me larguem seus endemoniados filhos de Satanás...
-Levem-no para a ambulância rápido!-Disse o Dr Nolasco.
Três dias depois Sarah Neruda vai visitar seu pai no sanatório:
-Bom dia senhora Neruda ainda não sabemos ao certo oque houve com o seu pai-Disse o Dr Nolasco,ao retirar um café expresso da máquina recém chegada.
-Como ele se comportou nessa última semana senhora Sarah?
-Bem Doutor, há alguns meses,depois que papai se aposentou da Força Aérea ele  questionava tudo.Programas de Televisão, políticos,ateus,deístas e até farmacêuticos-Respondeu a moça tremendo ao acender um cigarro.
-Ele estava lendo algo em especial?
-Sim, meu pai lia de tudo,ou lê sei lá...lia desde Dostoiévski até Lúcio Cardoso.Na verdade ele possui um acervo com mais de 3 mil livros.
-Entendo,mas me refiro á algo sagrado,místico.Com um cunho analítico ou auto-interpretativo?
-Sim, a mais de três semanas ele lia a Bíblia Doutor.
-Ele fazia orações senhora Sarah?
-Não!
Nem antes das refeições?
-Não Doutor.!!

-Tudo bem, obrigado pelas informações senhora Sarah.Desculpe a minha falta de educação aceita um café?
-Não obrigada, sou alérgica a cafeína.Mas diga-me,quando posso vê-lo? Interpelou a moça apagando cigarro.
-O horário de visita é as quatro da tarde.
-(...)
-Tudo bem, obrigado Doutor vou aguardar.
Sarah resolveu esperar o horário de visita,sendo que faltava três horas para a entrada dos familiares para a visita.
-Enfermeira!!
-Sim Doutor Nolasco.
-Peça ao Pedro e o Josias para colocarem o paciente do quarto 203 o senhor Pablo Neruda,no quarto 1890 junto com o Dr Kablund.
-Sim senhor.
Três horas depois o Doutor Nolasco viu Sarah na fila de visitas e a chamou.
-Ei Senhora Sarah venha, você precisa assinar esses papéis.Seu pai está de alta médica.
-Como assim??-Perguntou Sarah assustada
-Pergunte a ele senhora o motivo da evolução no seu quadro clínico,sou o médico,mas penso que ele lhe responderá melhor-Disse o Dr Nolasco aparentando pressa.

Ela aguardou a chegada do pai sem questionar.Ao vê-lo sair, o pai parecia outro homem.
-Papaiii,que bom te ver!! O senhor nem de longe parece aquele ser violento que eu ví xingando os enfermeiros- Disse Sarah aos risos.
-Pois é filha,tô com uma vergonha da vizinhança!
-Oque houve?
-Sabe filha,me colocaram em um quarto com um senhor.
A menina parou e sentou para ouvir a história com os olhos brilhando,nem as  fofocas sobre o chefe no ambiente corporativo lhe atraíra tanta a atenção.
-E oque ele fez papai?
-Ele carregava um relógio de bolso,fumava um charuto  e aparentava uns 60 anos.
Então eu me apresentei a ele:
-Prazer, Pablo Neruda
Ele sorriu e disse:
"-Bem, se você é quem está dizendo então eu não preciso me apresentar".
-Não senhor Freud !
Não quis contar a ele que meu avô era professor de letras e que todos os meus irmão tinham nomes de poetas.Resolvi simplesmente entrar na brincadeira,afinal eu estava em um sanatório.

"Diga-me oque há contigo meu caro poeta?" - Perguntou o Dr Kablund se passando por Freud e por louco.
-Bem, eu lí centenas de livros,inclusive do senhor...O diálogo teve uma pausa para uma enorme gargalhada de Pablo.Após se recompor prosseguiu:
-...Mas ao ler a bíblia inteira cheguei a conclusão de que este mundo está condenado.
-E oque ele te respondeu papai?- Perguntou Sarah agachando-se no banco da praça.
-Ele me contou uma história filha:

"Era uma vez uma idosa que cruzava a fronteira entre o Brasil e o Paraguai,sempre com uma bicicleta e uma mochila nas costas.A polícia tinha certeza que a tal idosa era uma contrabandista,mas sempre que a revistava não achava nada senhor Neruda.4 meses depois,um agente resolveu segui-la e se deparou com a mesma entrando em suas duas lojas.Uma bicletaria e uma loja de bolsas."
-Aprenda Senhor Neruda. Muitas vezes procuramos os detalhes e nos esquecemos do todo;do óbvio e do essencial.Em outras palavras: Viva e deixe os outros viver respeitando suas diferenças!- Finalizou o Dr Kablund apagando o charuto.
-Sabe filha naquele momento minha mente foi aberta, chamei o Dr Nolasco e o mesmo me avaliou.
-Incrível pai, como muitas vezes a resposta para nossos problemas está na LOUCURA.
-Verdade filha!
...
toc,toc..
-Entre!
-Bom trabalho Dr Kablund, é uma honra trabalhar com o senhor! - Disse o Doutor Nolasco apertando a mão do seu sócio de décadas.


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Inspirações:

Drummond -poeta favorito
Nolasco- (Sócrates Nolasco)-Psicanalista
Kablund- Pseudônimo de Alfred Henschke
Freud -Pai da Psicanálise
Pablo Neruda- O maior poeta Chileno
203- número da antiga casa onde morei
1890- ano da morte de Henschke


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